O Património Histórico

Da gloriosa Egitânia romana restaram vestígios da muralha que cercava a cidade, construída durante as invasões bárbaras dos sécs. III e IV, utilizando pedras e materiais aproveitados de habitações e templos romanos, que no entanto sofreu alguns acrecentos em períodos posteriores, nomeadamente durante a ocupação árabe.


















Reunidas na Catedral Visigótica, existem ainda várias inscrições que constituem um dos mais importantes conjuntos epigráficos do período romano, assim como alguns exemplares de cerâmica, moedas e outros artefactos guardados na Capela maneirista de S.Dâmaso.


















A ponte do séc. I, que fazia parte da via que ligava Mérida a Astorga, os restos de umas termas e do podium do templo romano, provavelmente dedicado a Vénus, sobre o qual foi erguida a Torre de Menagem templária, encerram o circuito romano de Idanha-a-Velha.


















O passado histórico da aldeia leva-nos de seguida para o período Visigótico e, como não podia deixar de ser, para o edifício suevo-visigótico mais antigo em Portugal, a Catedral da Egitânia. Trata-se de uma igreja longitudinal de três naves, construída no séc. VI, aproveitando materiais de edifícios romanos, que sofreu em períodos posteriores, diversas alterações que vieram modificar a sua estrutura arquitectónica original. É então por este motivo que aqui podemos encontrar elementos arquitectónicos e decorativos de outras épocas, nomeadamente alguns arcos em ferradura característicos da arte árabe, um portal gótico de gablete e um portal manuelino que corresponde à última intervenção no templo.


















Durante a ocupação árabe, a igreja foi adaptada a mesquita, tendo a organização do seu espaço interior sido alterada para servir as necessidades do culto islâmico. Podem ainda distinguir-se os restos da Quibla e do Mirabe muçulmanos, na parede lateral da nave voltada para Meca, correspondendo ao ponto mais sagrado da mesquita, para onde os crentes se voltavam na altura da oração.















Após a reconquista, a santa missa foi celebrada aqui até ao séc. XVI, altura em que se passou a realizar na actual Igreja Matriz, de estilo renascentista, o que conduziu ao encerramento e ruína da catedral que acabou por ser utilizada como cemitério até cerca da primeira metade do séc. XX. Foi já neste século que os fundos da Fundação Gulbenkian possibilitaram a realização de obras de remodelação, que levaram ao aparecimento de restos do pavimento visigótico, de várias moedas e peças de cerâmica, assim como o levantamento da colecção epigráfica que podemos ver no interior da catedral, juntamente com um sarcófago templário e alguns frescos do séc. XVI.
Junto da catedral podemos ainda encontrar vestígios de um hipotético Paço Episcopal, onde o Bispo e o Cabido realizavam todas as actividades necessárias ao templo, e um Baptistério. Trata-se de uma piscina baptismal em forma de cruz, onde era dado o baptismo por imersão, escavada no chão fora da igreja, uma vez que apenas podiam entrar no espaço sagrado aqueles que já estivessem devidamente sacramentados.
Apesar de não fazerem parte do património construído, não podemos deixar de referir duas histórias enraízadas na tradição histórico-cultural do período visigótico, pela sua contribuição para o imaginário colectivo e identidade cultural da aldeia. falamos do Papa S.Dâmaso que, segundo a tradição, nasceu na Egitânia nos meados do séc. IV e que empresta o nome à capela existente na aldeia, e de Wamba, um rei dos finais da monarquia visigótica eleito com a ajuda de intervenção divina, que, de acordo com as crónicas, também seria natural daqui.
Retomando a nossa viagem pelo património histórico de Idanha-a-Velha, vamos ainda descobrir no Largo da Igreja Matriz, o Pelourinho manuelino decorado com a esfera armilar e a cruz de cristo; a Capela do Espírito Santo, construída durante os sécs. XVI - XVII em estilo maneirista regional, a Capela de S.Sebastião do séc. XIX, um forno comunitário e um lagar de azeite recentemente restaurado.


















Ainda, a Casa Marrocos mandada edificar no séc. XX por uma família abastada e os antigos palheiros de S.Dâmaso que, à data, albergam os arqueólogos que trabalham na estação arqueológica de Idanha-a-Velha.


















Texto By Linda Pires in 1998
Fotos de 1998 e 2010 A.Pires