Da Egitânia à Idanha

Envolvidos pela solenidade silenciosa e plácida das casas, das árvores e das pedras, entramos na aldeia histórica de Idanha-a-Velha, testemunha dos tempos conturbados de outrora, quando Romanos, Visigodos, Árabes e Lusitanos aqui lutaram pela posse daquela que foi uma das mais importantes cidades da Lusitânia romana.
Embora não existam vestígios anteriores à presença romana, crê-se que esta povoação raiana da Beira Interior Sul, situada no concelho de Idanha-a-Nova, a poucos quilómrtros de Monsanto e Castelo Branco, tenha sido fundada pelos Turdulos no ano 500 a.C. Cerca do séc.I a.C. foi ocupada pelos Romanos que a chamaram de "Civitas igaeditanorum", nome que veio dar origem ao topónimo Egitânia, pelo qual ficou conhecida a cidade.
Devido à riqueza mineralífera do seu solo e à sua localização priveligiada na confluência das vias romanas que ligavam Mérida a várias cidades da Lusitânia, a Egitânia prosperou tendo-se tornado numa das mais importantes cidades romanas do nosso território. Não escapou no entanto, à progressiva decadência do Império e à chegada dos povos Bárbaros à Península Ibérica, como os Suevos que a vão incendiar e pilhar, no ano 420 d.C., pondo fim ao período áureo da ocupação romana. Felizmente esta época de declínio não se manteve durante muito tempo, pois aos Suevos sucederam os Visigodos que reconstruiram a cidade e em 534 a elevaram a sede do primeiro bispado da Lusitânia.

Durante a ocupação visigótica, recuperou a sua prosperidade e esplendor, tendo inclusive quase todos os reis visigodos mandado cunhar moeda neste local, até que em 713, foi conquistada pelos Árabes que lhe deram o nome de Idania, que acabou por resultar na Idanha por nós hoje conhecida.
Embora os Árabes também lhe tenham reconhecido a devida importância, sendo provávelmente dessa época as portas e os torreões da muralha que cercava a cidade, as lutas da reconquista vão desgastá-la e contribuir para a sua decadência, especialmente após a transferência da sede do bispado para a Guarda, durante o reinado de D.Sancho I.

Entretanto a cidade foi doada aos Templários que, para assegurar a sua defesa a cercaram de muralhas e, após a sua extinção foi integrada nas propriedades da Ordem de Cristo, juntamente com todos os bens pertencentes à Ordem do Templo em Portugal. D. Sancho II concede a Idanha, Carta Foral, que será renovada em 1510 por D. Manuel, numa derradeira tentativa de fazer regressar à cidade, a grandiosidade de outros tempos.
Durante o séc.XVIII, Idanha perdeu o título de cidade e em 1811 foi anexada a Idanha-a-NNova, tendo vindo a sofrer uma progressiva desertificação devido à fuga da população para o litoral e para fora do país à procura de emprego e melhores condições de vida. Com uma baixa densidade populacional e um alto índice de envelhecimento dos seus habitantes, que vivem essencialmente da horticultura, silvicultura e agro-pecuária para consumo próprio, a velha Idanha é hoje uma autêntica cidade museu e estação arqueológica, cuja evolução e importância histórica são visíveis nos vestígios deixados pelos diversos povos que por aqui passaram.
Texto by Linda Pires in 1998
Fotos de 2010 A.Pires